A verdade seja dita

"Uma verdade fundamental que não é dita dá origem a neuroses posteriores. (...) Chega um momento em que os pais percebem que a relação que têm com o filho é profundamente modificada quando lhe explicam precisamente o que lhe diz respeito, a ele, naquilo que contam da vida deles e não lhe contaram até então: verdadeira revolução, tanto para os pais como para todo ciclo familiar. Daí em diante, a criança "ouve" o que lhe diz respeito. A partir do momento que puseram em palavras o sofrimento da mãe, suas decepções no nascimento, as dificuldades familiares, a criança já não precisa manifestar mal-estares. Acabaram-se xaropes para dormir, recusas alimentares. Faltava-lhe acima de tudo a humanização proporcionada pelas palavras verdadeiras de luto ou de sofrimento de que ela participou desde o início de sua história de sujeito desejante."

Françoise Dolto
"Violência sem Palavras", em "As Estapas Decisivas da Infância"

Cabe aqui salientar que um processo psicoterapeutico familiar otimiza este processo, não com um, mas alguns encontros que oportunizam esclarecimentos e intimidade, promovendo o crescimento saudável, a autonomia da criança e a harmonização familiar . Não se trata de despejar em cima da criança suas angústias, mas poder nomear o que acontece, situação pela qual a criança naturalmente vivencia no cotidiano familiar, mas muitas vezes não se fala a respeito, permanecendo todo o conteúdo não dito sob a forma de angústia, fobia ou ansiedade a todos os membros da família, em particular a criança que ainda não possui recursos próprios para poder elaborar a vivência. Complementando com F. Dolto: "Dar nomes, aí está. A criança necessita que tudo seja dito."